Por que uns monstros merecem mais privilégios que outros?

Há quase dez anos, um assassinato brutal em Brasília deixou vários países perplexos. No dia 19 de abril de 1997, antevéspera do aniversário de Brasília e Dia de Índio, cinco jovens de classe média alta da capital federal cometiam um ato insano. A sociedade midiática brasileira ficaria então chocada. Naquela ocasião, cinco rapazes ateavam fogo no índio Galdino Jesus dos Santos, que dormia num ponto de ônibus no Plano Piloto, na avenida W3 Sul. Galdino morreu um dia depois no Hospital Regional da Asa Norte, com 95% do seu corpo queimado.A época, um dos assassinos disse em depoimento: “só queríamos dar um susto em um mendigo. Não sabíamos que era um índio”, afirmou. Na sua concepção, o homem indígena, de certa forma, tem um valor relativo, mas os mendigos não. Para ele, os pedintes devem ser exterminados.


Estatística Incendiária

Naquele ano, de acordo com as estatísticas do Hospital da Asa Norte, por ano, sete pedintes morriam queimados em Brasília.


Quem eram

Os cinco rapazes, moradores do Lago Sul (um dos melhores bairros de Brasília), eram Max Rogério Alves, Antônio Novély, Eron Chaves e os irmãos Tomás Oliveira de Almeida e G.A., menor de idade.

A imprensa, diga-se de passagem, deu bastante ênfase ao caso e cobriu com exaustão a insensatez urbana dos cinco rapazes de classe média alta de Brasília. Mas não tentaram empurrar goela abaixo da sociedade a redução da maior idade de 18 para 16 anos. Há de se ressaltar isso.

O crime, ocorrido nas barbas do Congresso Nacional, se quer virou pauta em plenário ou em qualquer comissão da Câmara ou Senado. Um dos rapazes era filho do juiz Novély Vilanova da Silva Reis, da 7ª Vara Federal.

A pena deles, com exceção do menor, era de 30 anos. Mas em 2004 estavam soltos.


2007, assassinato de Jão Hélio

Os assassinos de João Hélio, garoto de seis anos que foi arrastado pelo asfalto carioca por sete quilômetros, pautaram toda a imprensa nacional e ganharam destaque também no Congresso Nacional.

Os monstros do Rio, ao contrário dos de Brasília, eram pobres e negros; e não têm pais juizes nem advogados. Aos monstros cariocas, só lhes restam a indignação popular e a vontade elitista de jogá-los na fogueira.

Esses delinqüentes brutais cometeram um ato insano e merecem a devida condenação. Mas não uma pena sumária sem os tramites legais. Pois se os jovens de Brasília foram julgados e condenados os monstros cariocas também devem ser submetidos aos mesmos procedimentos processuais. Porém, sem as regalias que tiveram os jovens de Brasília. Pois esses não mereciam privilégio algum, mas sim a dureza da lei.

Diante desse quadro, só me resta questionar o (s) por quê (s) da enorme vontade de se reduzir a maior idade neste momento?


Imagens:

Foto 1 - Encenação teatral da morte do índio Pataxó Galdino. (Victor Soares).
Foto 2 - Índio Pataxó Galdino Hospitalizado com 95% do corpo queimado.
Foto 3 - Tomás Oliveira de Almeida, Eros Chaves de Oliveira e Max Rogerio Alves. Três dos cinco assassinos de Galdino.
Foto 4 - capturado o 5º assassino de João Hélio

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